segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Fellini è morto

Há uns dias assisti a uma cena comum numa clínica veterinária: mais uma vítima da insuficiência renal crónica a que foi necessário parar o sofrimento. Esta doença, talvez uma das mais importantes para se dicutir, é uma assassina implacável: quando surgem os sintomas é já normalmente tarde. Daí a importância do check-up anual a partir dos 8 anos.
O Fellini era um moço com um feitio... especial. A dona, a Sofia, escreveu este texto por ele:

"FELLINI: 2000-2009

Para um bom amigo:
Atenção! Sim, tu meu amigo...
(Lê isto com uma voz grossa e um pouco antipática...)

Viva!!
Sou o Fellini, gostas da foto? Eu estava em melhor forma do que quando me conheceste – um verdadeiro gato, agressivo, belo, um borracho... MIAU...
Bom, vou deixar de lado estas nostalgias pois sou um gato muito directo epor isso quero-te dizer que foste um humano impecável. E digo-te, eu não gosto muito de humanos, especialmente daqueles que são veterinários. RUMRUM!!
Voltando ao que interessa, um grande obrigado por teres tratado de mim com tanto carinho (até não pareço eu a falar) e um obrigado ainda maior por teres aberto o “portão” para eu poder correr e saltar livremente para explorar um novo mundo, que está cheio de gatos com quem posso andar à “porrada” (bolas, odeio gatos, mas vou adorar andar à tareia, como fazia com os gatos da vizinha). Mas o melhor é que tem uma pilha enorme de latinhas de frango com... (deixa ver melhor) UAU! Manga, frango, pêra! Que bom! RUMRUM! E ainda melhor, tem moscas e outros bichos para eu apanhar (Hi! Hi!) RUMRUM!!
Devias ter levado umas arranhadelas por aquela coisa chamada colar. Não deve ter graça, assim não te podia morder. E pior: o “capacete” preto – eu não via nada! RUM!! Mas, como diz a minha dona: “olhos que não vêm, coração que não sente”. (acho isto estúpido, mas ela lá sabe...)
Agora vou correr, não tenho paciência para estas pieguices, mas quero fazer um pedido: RUMRUMRUM... Continua assim, como és, pois vais ajudar muitos de nós, porque os nossos donos, por gostarem muito dos seus animais e terem medo da solidão, não nos deixam partir na altura certa. E isso torna-se muito difícil para nós e é-nos roubada a dignidade. E, em silêncio, sofremos...
Tu sabes que a tua missão, para além de tratares de nós, é ajudar os humanos a serem conscientes a abrirem o “portão” na hora certa. Nunca te refiras a mim como um caso “infeliz, mas sim usa o meu exemplo para eles entenderem a separação. E diz-lhes que eu saltei bem, na hora certa e, melhor, em minha casa, do colo da minha dona e grande amiga, para um sítio melhor e sem sofrimento. Lembra-lhes ue existem momentos para tudo na vida. MIAUMIAU... E que tu explicaste à minha dona o valor desse momento e que isso foi muito especial para mim e para ela. RUMRUM!
Adeus, um miau forte do fundo do coração, deste teu amigo de quatro patas...

FELLINI

P.S. - Livraste-te de mim mas ficaste com a pirosa da minha irmã, aquela “canídea” parva, com medo de tudo e que acha que a casa é um bife gigante... E também tens a “filha” da minha avó, a Pretty, pãozinho sem sal...
Olha, Olha! Isto é muito importante. Dá uma “turrinha” no borracho simpático que me fez muitas festas e me chamou de “amorzinho”. É uma humana com uma boa energia. (até pareço a minha dona a falar...) Estou mesmo maluco, deve ser do soro.
Bom, já chega, estou com pressa. Olha, tantos animais! MIAU! Isto promete... Adeus, adeus... Isto é excelente aqui, vou correr atrás daquele gato! Tchau... Boa vida para ti..."