A Toxoplasmose é uma das doenças que mais pesadelos causa aquando de uma gravidez, especialmente se os pais não estão bem informados sobre a mesma e se o pessoal médico que os assiste neste período ainda agravar mais os medos. Vamos abordar a doença em duas fases: neste artigo, pretende-se explicar exatamente o que é a Toxoplasmose e porque é importante na gravidez. Num segundo artigo, procurar-se-á esclarecer as dúvidas concretas que os futuros pais normalmente apresentam, abordando questões mais práticas e objectivas.
Em ambos, existirá o cuidado de explicar o papel exacto do gato na transmissão da doença, já que ele é tido como a fonte de todos os males nesta problemática (o que é injusto, diga-se).
Comecemos pelos factos básicos:
1º facto: a Toxoplasmose é uma doença parasitária, provocada pelo parasita microscópico (invisível a olho nú) chamado Toxoplasma gondii.
2º facto: é uma doença zoonótica, ou seja, pode afectar o Homem mas também alguns animais; de facto, a doença afecta a maioria dos animais de “sangue quente”.
3º facto: a Toxoplasmose é uma doença muito frequente, aparecendo evidências de exposição ao parasita numa percentagem significativa da população humana, em todas as zonas do globo.
4º facto: pode aquirir-se esta doença comendo vegetais não cozinhados ou carne mal cozinhada (mal passada), manuseando carne ou vegetais crus, bebendo água contaminada (que não tenha sido tratada) ou contactando (directa ou indirectamente) com fezes de gato.
5º facto: a grande maioria dos casos de infestação são assintomáticos, ou seja, não provocam quaisquer sintomas de doença.
6º facto: os problemas surgem quando a infestação por Toxoplasma ocorre numa pessoa com o sistema imunitário menos activo, como doentes com imunodeficências variadas e grávidas; nestas últimas poderá ocorrer aborto.
CICLO DE VIDA DO TOXOPLASMA
Hospedeiro definitivo: só existe um – o gato doméstico - no caso do Toxoplasma gondii. Isto quer dizer que o ciclo se completa apenas quando as últimas formas larvares, enquistadas nos tecidos (crus) das presas , são ingeridas por um gato. No intestino deste, começa um novo ciclo, sendo que o gato excreta oocistos nas fezes, tipicamente durante 1 a 2 semanas. Estas larvas só ganham a capacidade para infestar um novo hospedeiro – intermediário ou alternativo – após 1 a 5 dias no exterior.
Hospedeiro intermediário: aqueles que se contaminam por formas larvares – oocistos – a partir das fezes ou de algo que contactou com fezes de gatos com excreção activa de oocistos. Os oocistos formam quistos em diversos tecidos do hospedeiro intermediário, nomeadamente nos músculos. É quando um gato ingere alguma parte crua deste hospedeiro que o ciclo se completa.
Hospedeiro alternativo: como é o caso do Homem, será um hospedeiro que se contamina da mesma forma do intermediário (fezes) ou por ingestão de alguma parte de um hospedeiro intermediário. Como não faz parte da dieta do gato, esta via não vai completar o ciclo. Tal como no intermediário, a digestão permite que os oocistos se libertem e vão provocar novos quistos em diversos tecidos, nomeadamente no cérebro, nos músculos e no músculo cardíaco.
Normalmente estas infestações passam despercebidas. O sistema imunitário controla e isola a presença do Toxoplama, formando quistos. Fabricam-se anticorpos que são testemunhas do contacto com os parasitas.
Toxoplasmose e gravidez
No caso das mulheres grávidas, no entanto, complicações mais graves poderão surgir. É de lembrar que o sistema imunitário está um pouco deprimido durante este período, pelo que a gravidez é um factor de risco quando se fala de segurança alimentar.
Se uma mulher grávida, sem anticorpos de protecção, contactar com o parasita no primeiro trimestre da gestação, poderá ocorrer aborto. Se esse contacto surgir numa mulher que dispõe de anticorpos, não haverá infestação nem qualquer problema associado, em qualquer momento da gravidez.
No segundo trimestre da gravidez já não se verificam abortos, mas há a possibilidade de o parasita afectar o desenvolvimento dos olhos do feto, originando problemas congénitos e eventualmente cegueira no bebé.
No terceiro trimenstre não se verificam quaisquer efeitos de uma infestação por Toxoplasma.
Toxoplasmose e gatos
Os gatos são potenciais transmissores de Toxoplasmose a uma mulher grávida apenas se se verificarem todas as condições seguintes:
- Se são animais que caçam, pelo que precisam de ter acesso ao exterior; em alternativa, se lhes é dada carne crua, poderão infestar-se também e ser potenciais transmissores.
- Se defecam em casa ou se o local onde o fazem pode ser usado por pessoas; os ovos de Toxoplasma que passam nas fezes precisam de, pelo menos, 1 dia para poderem ser infestantes, ou seja, provocar doença.
- Se ainda não atingiram o equilíbrio imunitário após a infestação, situação que determina o fim da eliminação dos ovos.
- Se a grávida não possui, ela própria, anticorpos protectores contra a doença; mas as medidas de higiene podem ainda limitar os riscos.
Como se pode entender, a toxoplasmose está mais relacionada com factores alimentares do que contacto com gatos ou outros animais. As medidas de prevenção mais importantes passam por reforçar as medidas de higiene pessoal e alimentar, evitar o consumo de alimentos não cozinhados e de águas não tratatdas e ainda verificar as condições de contacto com gatos, nomeadamente quanto ao tipo de vida que este tem e às medidas de prevenção de contaminação a partir das fezes dos mesmos.